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50 mil mortos: como o negacionismo é a base estrutural desta tragédia.

  • Foto do escritor: Jeferson Alexandre Miranda
    Jeferson Alexandre Miranda
  • 22 de jun. de 2020
  • 3 min de leitura

Lamentavelmente atingimos nesta última semana um dos índices históricos mais trágicos de toda a breve História do Brasil. Ao atingir a casa dos 50 mil mortos pela COVID 19, o Brasil, agora epicentro da pandemia mundial, alcançou um patamar de perda de vidas maior que a da mais cruenta guerra que nós já nos envolvemos: A Guerra do Paraguai.


O que nos deixa ainda mais perplexos é que ao contrário da guerra que durou longos anos, estes números estão sendo alcançados em pouco mais de meses em uma conta que ainda não fechou, e vai continuar aumentando até a estabilização desta pandemia.


Entretanto, ainda que os números devessem nos levar a reconsiderar o que pensamos sobre esta doença continuamos a ler dia-dia nas redes sociais e nas conversas de canto de esquina as mais absurdas teorias sobre o coronavírus, os avanços da cloroquina, ou mesmo as diversas teorias conspiratórias sobre leitos vazios em hospitais, números superfaturados de contaminados e organizações comunistas mundiais. Elas seduzem não apenas não apenas políticos como Jair Bolsonaro, que usa a pandemia com intenções eleitoreiras, mas até mesmo pessoas inteligentes e boas que continuam insistindo em negar fatos.


Estas últimas considerações são alarmantes uma vez que a recusa em aceitar todas as evidências científicas e a negação dos fatos da história recente em detrimento a teorias conspiratórias são hoje a maior ameaça a saúde pública em nosso país.


Não é de hoje que o negacionismo tem se instaurado na sociedade humana e colocando-a em uma situação de perigo imediato. Há muito que a negação do papel humano no aquecimento global, os ataques dos movimentos anti-vacinas, a negação do evolucionismo e o terraplanismo tem se espalhado como uma praga mundial sendo alimentada pelos círculos dos pensamentos conservadores econômicos, políticos e religiosos.


Os números são impactantes. No Brasil mais da metade de nossa população não sabe explicar o porquê das estações do ano ou o porquê da existência do dia e da noite. Mais de 60% dos brasileiros contestam a seleção natural, reforçando ideias criacionistas. O agravante é que esta realidade não está apenas relegada aos que tiveram menos acesso a educação de qualidade, por detrás destas teorias absurdas relacionadas acima estão pessoas com boas formações acadêmicas, os assim chamados de letrados. Assim sendo, não podem ser chamados de ignorantes.


A explicação para isso talvez seja que o negacionismo seja uma opção satisfatória em termos emocionais, algo muito mais fácil de se aceitar do que a verdade que se apresenta em fatos.


Negação não é mentira. É uma verdade que satisfaz. É algo que atende a motivos pessoais e cordiais uma vez que sublima sentimentos de frustração, estresse e derrota. Aplaca mágoas e cria uma zona de conforto que permite a consciência se equilibrar entre o moral e o ético. Infelizmente, pessoas em negação são vítimas perfeitas para a manipulação por pessoas mal-intencionadas. Campanhas de desinformações como as correntes de fake News navegam nesse mar de pessoas com objetivos próprios.


Retomando nosso ponto de partida. É possível entender como os números estapafúrdios de mortes ocasionadas pelo coronavírus ainda não retiraram muitos brasileiros de seu sono em berço esplêndido. A capacidade de raciocínio do ser humano diante de evidências contrárias é impressionante, confortável e até útil. Mas precisamos reagir por que este tipo de pensamento afeta as bases de nossa capacidade de enfrentar o momento urgente que vivemos. É importante lembrar que o equilíbrio da existência humana interessa a nós, o planeta ao contrário já sabe a muito tempo que a próxima grande extinção será a nossa.

 
 
 

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