Democratas do mundo, uni-vos!
- Jeferson Alexandre Miranda
- 30 de ago. de 2020
- 3 min de leitura
Atualizado: 1 de set. de 2020
É momento de reexaminar a bibliografia clássica e convencional e até mesmos as certezas históricas.
Vivemos em nossos dias uma onda antidemocrática com flertes ao autoritarismo e ao neofascismo. Algumas vezes chamado de “Nova Direita” o conceito é relativamente um recorte novo na literatura acadêmica, uma vez que a rápida ascensão no cenário nacional desse novo seguimento político aconteceu na última década.
Este cenário é algo surpreendente uma vez que acreditávamos que a Democracia, ao final do século XX, seria algo consolidado. Assim é no mínimo inesperado um debate que não se centrasse em seu amadurecimento, fortalecimento e evolução. Observar o radicalismo apresentado por essa onda é algo estarrecedor para a o profissional da área de humanas.
A crença em uma Democracia consolidada, ainda que em governos democráticos recentes como no Brasil, apontava os estudos políticos para uma discussão sobre sua qualificação. Desta forma é necessário fazer uma mea-culpa: havíamos esquecido que sistemas políticos podem mudar.
Tendo a história como testemunha, poderíamos já supor que observando as realidades da Alemanha no final do século XIX e início do século XX – poucos poderiam imaginar que durantes os anos de 1920 o Nazismo ascenderia de forma tão brutal. Ainda que posteriormente os estudos científicos buscaram insistentemente demonstrar que ele já estava sendo engendrado em uma série de circunstâncias sociais, a ascensão dos regimes totalitários na Europa surpreendeu o mundo e os pensadores. Teria sido falta de atenção ou presunção contemporânea acreditar que o status Democrático que atingimos nas primeiras décadas do século XXI seria irreversível?
No auge da racionalidade real, Hegel, filósofo alemão, teria exclamado ao ver Napoleão invadindo as terras onde morava: “Eis a razão a cavalo!”, por enxergar que os tempos em que vivia eram momentos decisivos de mudanças. Pois, é fato: estamos vivendo um ponto de mutação.
Estamos privilegiados na dor, uma vez que somos a geração que devemos dar uma resposta para as indagações que agora se fazem, ainda que imersos na realidade embriagante, devemos enfrentar o vaticínio da História de que nada pode se ter certeza antes que 50 anos se completem de um fato.
É momento de reexaminar a bibliografia clássica e convencional e até mesmos as certezas históricas.
Qual a função da política? Estudos tradicionais argumentariam que ela serve a necessidade de minorar o caos do todo contra todos, como afirmou Hobbes. Mas o que assistimos na atualidade é a emergência de um paradigma de política que estimula a discórdia, chama a todos para o embate, para a o caos. Enquanto pensávamos na política como um mecanismo de minorar a guerra, vemos surgir tendências neofascistas que fazem a política em favor de se produzir a guerra. Para essa tendência política nutrida por ódio, o opositor ou adversário se tornou um “inimigo” político que deve ser eliminado – exterminado, por agentes fieis e obedientes, um ódio que exige fidelidade.
Tudo é estratégia? Sabemos que processos sociais tem dinâmicas em que indivíduos não governam. Dentro de uma lógica de ação coletiva, pessoas são movidas por razões próprias receitadas por preceitos morais, éticos e religiosos.
O século XX é marcado por 5 grandes teorias: Liberalismo, Comunismo, Nazismo, Fascismo e a Socialdemocracia. A dicotomia Direita/Esquerda foi ampliada de tal forma que se torna fundamental um debate para pontuarmos se existe o por que a Democracia está em xeque.
O melhor caminho neste sentido é fazer uma escolha epistemológica: olhar o presente sobre a ótica do passado, uma vez a que a história conforma a dinâmica da atualidade. Há uma trajetória de dependência entre o hoje e o ontem.
Neste momento podemos afirmar com certeza que a Democracia não é uma unanimidade e seu modelo liberal representativo, em que partidos são os sujeitos está sob questionamento. Nas últimas décadas assistimos a ascensão do discurso da democracia participativa em oposição a democracia representativa, novas instâncias de participação foram criadas. Precisamos recuperar o processo histórico sob o viés da unidade analítica.
Democracia é o único regime em que o jusnaturalismo e o contratualismo podem ser respeitados. O jusnaturalismo é a base da inversão do homem moderno. Na democracia todos aqueles pertencentes ao conjunto humanidade são igual. Por isso direitos humanos é uma incondicionalidade central no regime democrático.
É fato que muitos lugares ainda não alcançaram plenamente a realização do jusnaturalismo – ondas civilizatórias vão expandindo a inclusão dos indivíduos no conjunto humanidade. A expansão do jusnaturalismo inclui novos atores mudando os contratos, expandindo a cidadania firmando inclusões, retirando vetos.
Sempre que a expansão do jusnaturalismo aconteceu houve reações uma vez que na sociedade capitalista o poder dos bens materiais e dos bens simbólicos são de propriedade privada e nem sempre aquele que são donos querem abrir espaços em seus privilégios, surgem aqui os mecanismos de ruptura. Aqui talvez esteja o grande debate, ainda que moralmente estes princípios estejam na base da discussão entre o bom e o ruim, o processo histórico permite essas ondas reversas. Enfrentar-las é o paradigma de nossa geração.
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