O que é essa tal de nova direita?
- Jeferson Alexandre Miranda
- 28 de dez. de 2020
- 4 min de leitura
A “Nova Direita” não é um fenômeno brasileiro, mas mundial. Se observarmos os grandes ciclos políticos que abarcam a história, desde a Revolução Francesa, esquerda e direita parecem sempre tencionados, um em relação ao outro. E por denominação, necessariamente um campo é mais comumente chamado de radical e conservador (direita) e outro de progressista e transformador (esquerda), desta forma essa dinâmica, que não se pauta apenas pela ação nacional e nem pela história do tempo presente, mas vem percorrendo as estruturas políticas mundiais, há mais de dois séculos, é justamente agora pauta de discussão no cenário brasileiro.
Embora tenhamos algo que podemos chamar de direita, de outra maneira existem alinhamentos deste campo político e ideológico que vão se reposicionando ao longo do tempo. Neste sentindo em um primeiro momento é importante reter um elemento nesta discussão, que é de se entender que a direita, qualquer direita em qualquer momento do tempo, tem que ter elementos básicos em seu compartilhamento, na sua identidade. Assim, dificilmente você vai poder chamar de direita algum tipo de pensamento que não tenha certas características estruturais. Historicamente a direita é aquele grupo político que pautado na defesa do passado, da tradição, da não mudança da sociedade em direção ao futuro, partilha outros elementos que são estratégicos para compreender inclusive o risco político que elas representam.
O primeiro deles é que a direita tradicionalmente sempre recusou a ideia de um sujeito humano dotado de capacidade de transformar o mundo, em segundo lugar, sempre pensou em uma desigualdade natural, e finalmente, em terceiro, em uma hierarquia natural entre os atores quer seja a hierarquia da família ou mesmo da sociedade.
A família é sempre um tema importânte para este campo por que se liga a uma questão de conservadorismo moral. A direita seria algo que a natureza produziu, em sua forma política e social, é a estrutura da vida humana, um dado da natureza, assim como pais vem antes de filhos, ou ainda, como na explicação religiosa, como Deus vem antes dos homens. Sendo assim não se pode contrariar a ordem da natureza, nem a ordem religiosa, muito menos a ordem da tradição.
Devido a isso, na retórica da direita, as pessoas recuam sempre a ideia de as coisas são assim por que sempre foram. O discurso que afirma que homens sempre resolveram seus problemas da mesma maneira, as instituições e as práticas que eles encontraram foram as melhores para aquele momento e então não podemos desperdiçar este conhecimento é um discurso atravessa o tempo desde Burke, passando pelos pensamentos dos conservadores do século XX e são perceptíveis em pensadores mais contemporâneos como João Camilo ou em práticas de governos que entendem o homem com um natureza belicosa, que as coisas tem um funcionamento próprio e que sempre alguém irá mandar em outro.
Do ponto de vista de sua estrutura intelectual a direita tende sempre para o mesmo tipo de argumentação porque esta é a sua visão fundadora.
Embora os indivíduos possam cruzar e fortalecer uma variável ou outra, precisamos entender essas características centrais, as quais sem elas, não é possível entender os arranjos que vão se processando ao longo da história.
Mas é possível falar de uma nova direita? Se não usamos o termo "Novo" fica difícil estabelecer um discurso de longevidade deste campo. No caso brasileiro, a retórica conservadora está enraizada desde o debate da escravidão, passando pelo da república apropriada a nós ou não em uma sociedade de incultos. Em uma sociedade de povo massa, seria impossível estabelecer um leque de continuidade entre este tipo de perspectiva ontológica e teórica com matriz política que fundamentam, por exemplo, o discurso de Bolsonaro ou de Olavo de Carvalho, nos dias atuais.
Mas afinal é nova?
Nova se pensarmos que cada processo político é um campo muito pragmático, é um campo que tem haver com a resolução de problemas concretos da realidade, e neste sentido, a política é muito dinâmica. Braudel, quando escreve sobre a longa duração e a curta duração coloca a política como um dos últimos epifenômenos, porque a política está o tempo todo assentada nessa longa trajetória, mas a sua realidade é muito curta por que é tão efemera como são as nuvens no céu.
O ano de 2013 é sem sombra de dúvida um ponto de ruptura na história brasileira, ele é a clara demonstração de que o capitalismo não é o mesmo daquele clássicamente entendido a partir da divisão de classes sociais. As classes sociais se modificaram, assim como também as estruturas políticas se transformaram. Chegamos ao fim de um ciclo democrático aparentemente estável e já rotinizado, agora os novos atores terão que lidar com outro debate, muito diferente, dos anos de 1990.
A direita mudou a forma de como se faz política, e essa revolução não é algo de pequena envergadura. É uma nova direita, não por causas de novos instrumentos, mas principalmente por que a agenda de temas foi modificada por um ciclo avançado da Nova República transformada. Não é irreal dizer que a chegada do Partido dos Trabalhadores a presidência da República em governos sucessivos, criou um binarismo desde a eleição de 1989. A ampla aceitação dos governos progressistas do Partido dos Trabalhadores, durante praticamente 12 anos, levou a uma polarização do campo conservador, que viu na via radical e disruptiva a sua forma de romper com este ciclo de sucessos da esquerda, culminando na vitória de Jair Bolsonaro.
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