Acordo de 'paz' de Trump atropela flagrantemente os direitos e liberdades palestinas
- Jeferson Alexandre Miranda
- 20 de fev. de 2020
- 3 min de leitura
Este plano é simplesmente uma continuação da política EUA-Israel. Os palestinos já ouviram isso antes e não aceitam
Na Casa Branca, Donald Trump ao lado de Benjamin Netanyahu apresentou aquilo que ele chamou de "acordo do século": Um plano que parece representar todos os últimos anos de não entendimento do real problema palestino. Ele pede aos palestinos que reconheçam Israel como um estado judeu com toda Jerusalém como sua capital, renunciem ao direito de retorno que permitiria que refugiados palestinos voltassem para Israel, aceitassem a anexação do vale do Jordão, os assentamentos ilegais de Israel no país e a condição de viver em uma espécie de “bantustões” conectados por estradas e túneis que seriam essencialmente controlados por Israel.
Nada disso surpreende. O plano não é apenas uma continuação da política do governo Trump em relação a Israel e à Palestina, mas uma repetição das últimas décadas de desrespeito às aspirações palestinas de liberdade e soberania.
Quando os acordos de paz de Oslo foram assinados em 1993, eles foram saudados como a base para uma paz negociada entre Israel e a Palestina - uma postura que a maioria dos atores e órgãos internacionais continuaram mantendo nas décadas seguintes. Mas para muitos palestinos o acordo minou a luta de libertação e quaisquer esperanças de uma futura soberania palestina. A divisão da Cisjordânia nas áreas A, B e C sob os acordos permitiu que Israel dominasse as duas últimas áreas, enquanto as primeiras se tornaram bolsões de autonomia palestina limitada. Em outras palavras, facilitou a completa manutenção da Cisjordânia e o isolamento de Gaza.
Enquanto isso, os acordos falharam em abordar adequadamente as principais questões de Jerusalém, refugiados, assentamentos, fronteiras e segurança. Isto foi designado como "questões de status final", e deveriam ser resolvidos como parte de algum futuro acordo de paz. Inadvertidamente, então, a OLP (Organização de Libertação da Palestina), liderada por Yasser Arafat, permitiu que se tornassem questões disputadas, em vez de questões centrais da luta palestina e definidas claramente no direito internacional. Isso ficou claro na Casa Branca quando, ao lado de Trump, Benjamin Netanyahu disse que falar sobre a ocupação como "ilegal" era escandaloso.
Não havia palestinos na Casa Branca; de fato, Jared Kushner, genro de Trump e o arquiteto desse plano, mal se preocupou em falar com qualquer palestino. E não há menção no plano de Trump sobre os direitos palestinos. Em vez disso, os palestinos receberiam incentivos econômicos na casa dos 50 bilhões de dólares em investimentos nos próximos 10 anos. Como se pagar os palestinos os fizesse esquecer os direitos a Jerusalém, retornar às suas aldeias e cidades de origem ou viver como seres humanos iguais e plenos.
Portanto, fica claro que o plano de Trump não é apenas um ataque aos direitos e liberdade palestinos, mas também uma tentativa de apresentar uma nova ordem mundial que mina completamente o direito internacional. O que quer que a Casa Branca possa ter dito, nunca esperou que a liderança palestina aceitasse esse plano ou mesmo considerasse alguns de seus termos e condições. Assim pode-se continuar a propagar a narrativa de décadas e até certo ponto racista de que o povo palestino é rejeicionista e não quer negociar. Isso ficou evidente nos comentários de Kushner: se os palestinos não aceitarem esse acordo, "eles vão estragar outra oportunidade”, ou seja afirmou claramente que os anteriores foram estragados por um ato de oposição simplesmente ideológica.
Por mais deprimente que o plano de Trump possa ser, ele sugere uma conclusão possível. Por ele enquanto as negociações ocorrem, a OLP não deve participar de nenhuma ação contra Israel no tribunal criminal internacional - em um aceno à recente investigação de crimes de guerra aberta pelo promotor principal do tribunal. Isso revela que Israel está realmente com medo de tal movimento.
No entanto, nada disso muda a realidade: existe efetivamente uma entidade que se estende do rio Jordão ao mar Mediterrâneo, onde dois grupos de pessoas vivem vidas muito desiguais e separadas. Israel e os EUA estão trabalhando duro para consolidar e finalizar isso - e com se a comunidade internacional continuar paralisada, eles o farão. No entanto, a outra parte da realidade é que os palestinos não vão a lugar algum. Eles continuam vivendo aos milhões em Haifa, Jaffa, Jerusalém, Ramallah, Hebron e além. Eles precisam mudar drasticamente sua realidade atual, mobilizando e exigindo mais de sua liderança e imaginando um futuro radicalmente diferente, mesmo quando parece impossível.
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