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Globalização 4.0 x Globalismo

  • Foto do escritor: Jeferson Alexandre Miranda
    Jeferson Alexandre Miranda
  • 1 de mar. de 2020
  • 3 min de leitura

Pensar em um mundo não multipolar é ir contra a história da própria humanidade.


Embora a atualidade seja povoada por crenças milenaristas como o globalismo - uma conspiração mundial para impor um sistema internacional que supera a soberania nacional - que busquem contestar a ordem estabelecida pós-Guerra Fria, a globalização está viva e forte. E nunca antes, desde o fim daquilo que se convencionou chamar de Socialismo Real, foi tão importante que ela se torne eficaz e resiliente, compreendendo fortes estados-nação.


A cooperação global finalmente emergirá da crise em 2019? O recente acordo da comunidade internacional sobre um "livro de regras" para a implementação do acordo climático de Paris parece oferecer alguma esperança. Porém, pesquisas de opinião sugerem que muitos continuam preocupados que uma recessão econômica global ou uma grande crise geopolítica que possam vir a testar a resiliência do sistema internacional, justamente agora que ele parece estar sob ataque.


Tal como está, talvez as maiores barreiras à cooperação internacional sejam políticas. Nos últimos anos, houve uma intensificação da reação contra a cooperação internacional, enraizada em parte nos medos - alimentados por líderes políticos populistas - de que as "elites" transnacionais estão tentando impor o "globalismo": uma "ideologia que prioriza a ordem global neoliberal" sobre os interesses nacionais.

Perspectivas que refutam essa narrativa parecem estar ganhando terreno. Muitos líderes mundiais acreditam que os países ocidentais desperdiçaram sua influência sobre o sistema internacional ao intervir política e militarmente nos assuntos de outros, sem objetivos muito claros. Alguns também argumentam que a elite global se beneficiou ao apenas fingir buscar mudanças socioeconômicas enquanto mantinham seus status quo, mas acreditam que agora, no entanto, as hierarquias verticais que sustentam a ordem global estão sendo interrompidas pela crescente influência política e econômica das redes horizontais.


Segundo o historiador Yuval Harari, em seu livro Sapiens, a história continua se movendo "lentamente na direção da unidade global". O principal desafio político à cooperação global reside em gerenciar nosso mundo diversificado e pluralista dentro da arquitetura institucional estabelecida, superando a tendência de alguns de associar qualquer esforço para moldar a globalização ao globalismo, internacionalismo ou imperialismo.


O que seria necessário para construir um sistema mais resiliente, capaz de suportar choques repentinos e ao mesmo tempo manter suas funções principais? A resposta não é fácil. Em termos práticos, uma ordem internacional atualizada deve levar em conta os quatro desenvolvimentos distintos que caracterizam a última encarnação da globalização.


Para começar, o mundo está se movendo em direção a um sistema multipolar, no qual os EUA não são mais a força internacional dominante. Além disso, entramos na época do Antropoceno, em que a atividade humana é a principal influência sobre o clima e o meio ambiente. Temos a capacidade de destruir outras espécies de maneira tão eficaz que, como Edward O. Wilson alerta, podemos muito bem "eliminar mais da metade de todas as espécies até o final deste século".


Terceiro, o aumento acentuado da desigualdade tornou a inclusão econômica e a equidade uma prioridade para muitos. Isso moldará as políticas nacionais em um futuro próximo e, assim, ajudará a determinar o destino da atual ordem liberal.


Por fim, a Quarta Revolução Industrial, está nos forçando a considerar "como a tecnologia está afetando nossas vidas e remodelando nossos ambientes econômico, social, cultural e humano".


Dada a natureza instável da globalização, ela pode ser melhor entendida em termos conceituais do que como um fenômeno histórico. Essa é a lógica esteve por trás do tema da última reunião anual do Fórum Econômico Mundial em Davos, Suíça: "Globalização 4.0: Moldando uma arquitetura global na era da quarta revolução industrial".


Descobrir a melhor forma de influenciar o curso da globalização não será fácil. Mas aqui também os humanos parecem ter uma inclinação natural. De fato, muitos cientistas agora acreditam que pensar no futuro é a característica definidora dos seres humanos e argumentam que "olhar para o futuro, consciente e inconscientemente, é uma função central do nosso cérebro grande" e que planejar isso resulta em menos estresse - e mais felicidade.


Estamos empenhados em pensar sobre o futuro do nosso planeta - e esse futuro exige uma arquitetura institucional mais robusta e resiliente, responsável pelas quatro forças principais que moldam a Globalização 4.0. Deveríamos começar a trabalhar na construção.

 
 
 

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