Sob a Sombra do Neofascismo
- Jeferson Alexandre Miranda
- 9 de mai. de 2020
- 3 min de leitura
O crescimento da extrema-direita mundial reaviva movimentos conservadores e pavimenta a volta de retóricas neofascista e neonazistas.
Neonazismo ou Neofascismo é um termo genérico para as crenças fascistas, nacionalistas, supremacistas brancas, antissemitas e tendências políticas de numerosos grupos que surgiram após a Segunda Guerra Mundial buscando restaurar a ordem autoritária baseada em doutrinas semelhantes às Alemanha nazista ou sistemas autoritários subjacentes tendo suas copias variantes em cada região do planeta.
A interação entre movimentos populistas de direita, partidos e organizações quase-fascistas e grupos neonazistas acabou obscurecendo as fronteiras ideológicas e criando controvérsia sobre onde grupos específicos se enquadravam no espectro político.
São inúmeros os exemplos espalhados pelo mundo todo, não se restringindo apenas ao continente europeu, tido como seu berço. Partidos e grupos nacionalistas de extrema-direita em seus países negam qualquer conexão com o fascismo ou o neonazismo, mas ecoam muitos dos mesmos temas xenófobos e fornecem uma reserva de recrutamento para os organizadores de manifestações antidemocráticas por todo o mundo.
Por outro lado, políticos de direita em vários países frequentemente tentam capturar os eleitores que poderiam estar inclinados ao neofascismo, sem ofender os segmentos do eleitorado que seriam alienados se o apelo fosse muito aparente e o vínculo muito explícito.
Eles andam em uma corda bamba política, especialmente neste momento em que se tem a oportunidade de serem aceitáveis para um grande público. Seus partidos políticos foram descritos como "extrema-direita" ou "populista radical de direita" pelos acadêmicos, enquanto seus críticos políticos os chamavam de quase fascistas ou neonazistas. Em alguns países, os partidos eleitorais de direita foram construídos em torno de formas etnoreligiosas de nacionalismo, como foi o caso de inúmeros partidos políticos islâmicos militantes, alguns setores da direita israelense, alguns grupos políticos da direita cristã mundial e o partido nacionalista hindu Bharatiya Janata (BJP) na Índia. Outra forma comum, e mais facilmente reconhecida, são os partidos etnonacionalistas de direita que apresentam xenofobia e retórica populista.
À medida que os partidos de extrema-direita obtiveram vitórias eleitorais em toda a Europa, nos EUA, na Índia e no Brasil a linguagem usada para descrevê-los se tornou mais moderada, aumentando o medo de que a situação não esteja sendo enfrentada abertamente ou suas ações estejam sendo relevadas pelas autoridades que deveriam zelar pelo cumprimento das Constituições democráticas ao redor do globo.
É muito difícil usar os conceitos antigos para caracterizar movimentos políticos atuais, sob pena de cometer anacronismos históricos. No passado era muito mais fácil condenar estes movimentos pois eram pequenos e barulhentos, e pouco podiam ameaçar a segurança e o equilíbrio democrático ocidental, mas na última década se tornaram grandes atores políticos em diversos países. Suas vitórias no leste europeu, seu crescimento em países como França, Itália e Holanda e seu ápice nas eleições de Donald Trump, nos EUA, e Jair Bolsonaro, no Brasil, serviram para comprovar que este movimento já alcançou objetivos muito mais amplos que se podia imaginar, até então.
Ainda que os neonazistas atuais interajam com os partidos políticos de direita e mainstream, eles permanecem movimentos marginais em comparação às populações nacionais, mas atos recentes demonstram que eles são capazes de ações brutais de violência. Manifestações como as de Charloteville (EUA), coletes amarelos (França) e os ataques a enfermeiros e jornalistas no Brasil demonstram como esses movimentos passaram a ser aceitos, sob conveniência dos governantes locais, por sociedades tidas como democracias consolidadas, ou, no caso brasileiro, em processo de consolidação.
É fato que o neofascismo e neonazismo se tornaram um elemento permanente no cenário político global. Ainda que a memória histórica, no ocidente, de governos autoritários e assassinos limitem seus crescimentos, o nacionalismo xenófobo e o nacionalismo populista cada vez mais estabelecem-se de forma hibrida com os novos partidos da extrema-direita. Essas formas teocráticas de fascismo já produziram vários movimentos autoritários. É possível que, se o fundamentalismo religioso militante continuar a se expandir, haverá mais intersecções com movimentos e governos autoritários.
Embora esta previsão não se concretize as ameaças letais às sociedades em todo o mundo e suas ações nefastas já produzidas são suficientes para fazer que nossos piores pesadelos nos assombrem durante o dia.
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