VALORES E VISÕES DA NOVA DIREITA BRASILEIRA
- Jeferson Alexandre Miranda
- 21 de jan. de 2020
- 3 min de leitura
Desde 2013 assistimos a ascensão de uma nova direita no Brasil, a crise econômica e o enxugamento da classe média brasileira levou nosso país a um momento muito parecido com outros cenários espalhados pelo globo: a onda conservadora que tomou de assalto o governo brasileiro se consubstanciou na eleição do governo de extrema direita de Jair Bolsonaro.
Seria 2016 um espelho de outros momentos do golpismo brasileiro no século XX? A partir de 2013 assistimos à criação de frentes direitistas em deflagração de guerra contra a esquerda. Os diferentes matizes da direita, fossem eles de centro ou de extrema, tinham em comum um anseio unificador; derrotar a esquerda sob a bandeira de interesses econômicos. Vimos assim o ressurgimento do anticomunismo fundamentado em suas fontes tradicionais: religião, nacionalismo e liberalismo. Em retrospecto parece que estávamos revivendo os anos de 1940. Quando observamos que elementos tão ultrapassados como o anticomunismo são ressuscitados, ainda que sejam anacronicamente impossíveis, podemos questionar: por que eles ainda são usados? A resposta é simples; são utilizados por que ainda obtêm sucesso nos dias atuais.
Romper a análise linear do tempo nos ajuda a entender e iluminar movimentos golpistas como o de 1964 e assim considerar se 2016 estaríamos novamente diante de um destes momentos tão singulares na história do Brasil. Golpes são sempre sustentação para a justificativa de ações autoritárias e na maior parte deles militares estão sempre por perto. A tradição do exército brasileiro sempre foi forjada nesta ordem. Mas o que levou o exército brasileiro a comprar essa nova onda conservadora e ressurgir como personagem político em pleno século XXI? Muito se fala que o gatilho pode ter sido a Comissão da Verdade que provocou militares que sempre acreditaram que mereciam congratulações e não julgamentos.
Outro fator latente foi o crescimento do antipetismo que de forma pejorativa foi intensamente chamado de comunopetismo. O alcance do atual antipetismo é muito maior do que fora o do anticomunismo, os movimentos potencializados pela rede social tem como fator unificador a repulsa pelos vermelhos. A realidade mostrou o nascimento de um antipetismo visceral, que não apenas estava e está contente em derrotar o partido, é necessário destruir ou oblitera-lo politicamente. Há de se dizer que o atual antipetismo não é anticomunismo, apesar de certas convergências, elementos novos podem ser destacados. São inovações deste novo pensamento conservador: um novo inimigo externo, a Venezuela e seu bolivarianismo, a frente conservadora católica se transformou na frente conservadora evangélica, a execração do lulismo, o novo discurso contra a corrupção, agora aparelhado pela operação Lava Jato, e um liberalismo muito mais forte que o existente no pós-Segunda Guerra Mundial.
Quais seriam pontos convergentes entre os golpes de 1937, 1964 e 2016? Nos três momentos históricos são muito presentes as crises políticas, em 1937 havia a crise do federalismo liberal, em 1964 a ultra polarização do Congresso Nacional e em 2016 o colapso do presidencialismo de coalização iniciado pela Constituição de 1988. Os três momentos apresentam forte instabilidade econômica, em 1937 tínhamos o Estado Interventor no controle da economia, em 1964 a perda do dinamismo econômico desenvolvimentista e inflação e em 2016 a forte recessão econômica e o fim da era dos commodites. Finalmente o tema da corrupção, em 1937 ele era presente, mas irrelevante, uma vez que foi praticamente um autogolpe, em 1964 era um grande tema mobilizador da direita, principalmente contra as Reformas de Base e em 2016 é a grande justificativa para a condenação da esquerda, ainda que se faça vistas grossas quando a mesma envolve a direita.
O ponto convergente de todos os golpes implementados no Brasil no último século é o mesmo: o antiesquerdismo. Isto sempre levou os conservadores a rua e é a sua grande bandeira de luta. Talvez fruto da democracia imatura que produzimos desde 1889. É fato que o último golpe, o de 2016 ainda não produziu uma ditadura – desta maneira há campo de ação e resistência possível, neste momento as Ciências Humanas e Sociais estão no olho do furacão.
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